Programação

07/11/2024 - 14h às 18h

Comunicações:


Literatura e diplomacia cultural: Construindo uma comunidade imaginada entre os povos do Brasil e da China - Tings Chak

Esta comunicação analisará o papel da literatura na relação entre a China e o Brasil antes do estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países. Como parte da “diplomacia popular”, ou “diplomacia entre os povos”, da China nos anos cinquenta, a literatura e os intercâmbios literários foram vistos como fundamentais na construção de uma frente contra o imperialismo, e o novo país socialista fez enormes esforços para traduzir a literatura do Terceiro Mundo. Neste contexto, as obras de Jorge Amado começaram a ser traduzidas para o chinês, gerando um grande efeito nas relações culturais entre os dois países, aprofundadas durante suas três visitas à China, acompanhado por Zélia Gattai e outros escritores latino-americanos. Amado é o escritor latino-americano mais publicado na China até hoje, e ajudou a levar a literatura chinesa ao público brasileiro, com destaque para a publicação, em 1955, de O sol brilha sobre o rio Sangkan, de Ding Ling. Nesta apresentação, analisarei como a literatura e o intercâmbio literário ajudaram a criar amizades de décadas entre escritores chineses e latino-americanos, criando uma comunidade imaginada entre terras e povos distantes.

O fascínio e o fluxo dos palcos nos contatos iniciais entre o Brasil e a República Popular - Esther Marinho Santana 

Em 1956, uma trupe dirigida por Chu Tunan e Chao Fang, composta por membros do Teatro Popular Artístico de Liaoning e da então recém-criada Companhia Nacional de Ópera de Pequim, conquistou as plateias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Longe de se exaurir em seu ineditismo imediato, a apresentação dos espectadores brasileiros à teatralidade chinesa descortinou o papel basilar conferido à Ópera de Pequim (ou Jingju/ 京剧) naquele período. Em 1960, uma delegação formada por Lygia Fagundes Telles, Helena Silveira, Raimundo Magalhães Jr., Peregrino Jr., Sandro Polônio e Maria Della Costa visitou a República Popular, onde foi oficialmente recepcionada por Chu e Zhou Enlai. Em seus vários registros da experiência, figuram menções recorrentes a performances de Ópera de Pequim em meio a jantares típicos, rituais de chá e visitas a comunas populares, em uma agenda meticulosamente planejada pelos anfitriões, ávidos por uma nova articulação internacional. Através da análise de diferentes textos produzidos pelo grupo, esta comunicação se debruçará sobre as vias de contato entre Brasil e China traçadas em torno do fascínio e do fluxo dos palcos. Em particular, refletirá sobre as impressões de Maria Della Costa, um dos nomes mais icônicos de nossa cena no século XX, a respeito do universo teatral chinês.  


Walter Salles e a China: rompendo uma distância antipodal, afetivamente - Cecília Mello 

Minha apresentação abordará a relação de Walter Salles com a República Popular da China – sua geografia, seu povo, sua cultura e seu cinema. Salles visitou a China pelo menos três vezes, sendo a primeira em 1979, quando ainda era adolescente, em uma viagem a Guilin, perto da fronteira com o Vietnã. Ele retornou em meados da década de 1980, supervisionando e posteriormente editando o documentário China: O Império do Centro, dirigido por seu irmão, João Moreira Salles. O documentário, um olhar profundo sobre o país durante as reformas de Deng Xiaoping, abriu uma janela para a China após décadas de isolamento e foi transmitido em duas partes pela TV Manchete. Apesar das grandes diferenças de estilo, o documentário convida a comparações com Cina, de Michelangelo Antonioni, realizado no início dos anos 1970 para o canal de televisão italiano RAI. Não por acaso, a obra de Antonioni responde por algumas das afinidades entre Walter Salles e o cineasta chinês Jia Zhangke, retratado com afeto no mais recente documentário de Salles Jia Zhangke: Um Homem de Fenyang (2014). Neste filme, a intertextualidade é um vetor para reflexões sobre as transformações da China no século XXI, e sobre o papel e a potência do cinema em meio a elas.


“Empoderamento” feminino com características chinesas: do guanxi ao socialismo - Marina Soler Jorge 

Esta comunicação tem como objetivo apresentar alguns resultados de meu período como pesquisadora visitante na Nanjing Normal University, no qual dediquei-me ao estudo da ficção seriada chinesa. Para isso, proporemos a análise da ficção seriada chinesa The Ideal City (理想之城), lançada em 2021, a partir de um recorte de gênero, uma vez que a série apresenta muito claramente uma perspectiva feminina. A análise de justifica na medida em que República Popular da China é um país de extrema importância na geopolítica atual, e suas séries de TV são produtos essenciais para compreendermos identidades e imaginários que lá estão sendo produzidos atualmente. A metodologia empregada será a análise textual, frequentemente utilizada para narrativas seriadas, pois que se trata de produtos audiovisuais com foco predominante no roteiro. A análise da série procurará identificar elementos da cultura chinesa, em particular o guanxi (关系) e a convivência de valores neoliberais, confucionistas e socialistas na ficção seriada chinesa.

 


Potenciais desafios para o audiovisual na criação de novas narrativas e modelos de cooperação desde o Sul Global - Milena de Moura Barba 

Após uma breve introdução do escopo da palavra audiovisual, apresentarei duas obras emblemáticas da cooperação sino-brasileira no setor. A partir delas, tecerei uma reflexão acerca dos desafios postos para o futuro, com foco na capacidade dialógica das nossas indústrias criativas em fomentar o diálogo e a cooperação, estabelecendo parâmetros multilaterais para a indústria audiovisual, bem como criando novas narrativas e modelos de negócios, desenvolvidos desde a experiência destes países do Sul Global.